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Thursday, January 18, 2007

TESTE DE RESISTÊNCIA

18.01.2007

Entrou pela madrugada o resgate do microônibus soterrado em São Paulo. O trabalho das equipes de resgate é um teste de resistência. É preciso muito cuidado para evitar novos deslizamentos. É preciso, ainda, muito preparo físico para agüentar a jornada.
Entrou pela madrugada o resgate do microônibus soterrado na cratera do metrô em São Paulo. Os bombeiros já conseguiram arrastar parte do veículo para dentro da galeria subterrânea. A retirada pode acontecer a qualquer momento.
O trabalho das equipes de resgate é um teste de resistência. É preciso muito cuidado para evitar novos deslizamentos. E é preciso, ainda, de muito preparo físico para agüentar a jornada.
Mas o que está atrapalhando mesmo, nessas últimas horas, é a chuva, que começou forte por volta das 4h. Isso torna ainda mais dramática uma situação já difícil. Agora, há muita lama no local do desabamento.
O trabalho de retirada do microônibus será ainda mais lento, teve que ser interrompido na madrugada.
Além disso, a chuva pode provocar novos deslizamentos. Os bombeiros dizem que, com a infiltração, a terra fica mais pesada e aumenta o risco de deslizamento. A lama também dificulta a sustentação da máquina que tenta puxar o microônibus.
A grua que está na beira do buraco ainda não foi desmontada e permanece sustentada por cabos de aço com um suporte de 250 toneladas. A chuva e o vento trouxeram mais uma preocupação: o braço da grua começou a se movimentar. É uma lança, que tem 54 metros de comprimento na frete.
A grua está presa com cabos de aço, mas existe o medo de que a terra ceda ainda mais e ameace a estabilidade do equipamento.
As equipes da Defesa Civil estão posicionadas, aguardando a chegada das pessoas que perderam suas casas e dos parentes dos desaparecidos - pelo menos quatro pessoas. A primeira reunião deve acontecer em instantes.
Trabalho dos bombeiros
O microônibus continua dentro do túnel, pelo menos metade do veículo está soterrado. Lá, os bombeiros só conseguem trabalhar usando cilindros de oxigênio.
No respiro da obra do metrô, por onde os bombeiros entram para as buscas subterrâneas, a toda hora, a lama é retirada de dentro do túnel e levada por caminhões.
Os bombeiros sobem e descem de elevador. O ambiente é tão inóspito que alguns carregam nas costas cilindros de oxigênio, uma forma de facilitar a respiração a 30 metros de profundidade.
O esforço é para tentar remover o microônibus, que está inclinado na saída do túnel. Desde ontem, bombeiros e operários usam retroescavadeiras para liberar o veículo, preso em rochas e ferragens.
No fim da noite, os bombeiros informaram que tinham puxado três metros do microônibus, mas que ainda não era possível localizar vítimas. O trabalho foi interrompido várias vezes. Por causa da lama dentro do túnel, as retroescavadeiras, usadas para tracionar o veículo, deslizavam a todo momento.
“Há acúmulo ainda de lama e de terra. Esse material tem que ser removido para que possamos baixar esse veículo um pouco mais e tentar puxá-lo de vez. Não visualizaram corpos, tudo indica que estejam lá dentro, não dá para dizer o estado em que estão, só quando for retirado o veículo”, aponta o capitão do Corpo de Bombeiros Mauro Lopes.
Para as famílias das vítimas que foram encontradas, o momento é de luto.
“Que Deus tome conta de todo mundo e do meu filho”, pede, chorando, a mãe de Francisco Torres, Tereza Torres.
O corpo do motorista de caminhão Francisco Torres, que tinha 47 anos, foi velado em casa. Todos os funcionários que estavam na obra na hora do acidente conseguiram sair dali - menos ele.
“Ele mesmo avisou que estava caindo e correu na frente. Depois viu que esqueceu a carteira de motorista, voltou para pegar e ficou soterrado”, conta o irmão de Francisco, José Afonso Torres.
O motorista será enterrado hoje. A mulher dele, Maria Sinhazinha Torres, ainda tinha esperança de encontrar o marido vivo.
“Eu nunca achava que ele estava morto. É muito difícil. Só o tempo vai dizer e vai me ajudar a entender o porquê”, diz a esposa de Francisco.
Os funcionários do consórcio que constrói a Linha 4 do metrô têm jateado concreto na parede da cratera para tentar evitar novos deslizamentos.
Por causa da chuva, esse trabalho seguiu em ritmo mais lento no início da manhã. Os operários usam uma grade de ferro sobre a terra e jogam concreto com uma mangueira. Mas, com a chuva, os trabalhadores têm que prestar atenção no concreto, para ver se o peso não atrapalha ainda mais a área.
Em outros pontos da cratera, a terra foi forrada com um plástico preto, para evitar a passagem da terra.
Muitas máquinas são utilizadas nos trabalhos na cratera, mas nem sempre dão conta. Em alguns momentos, os bombeiros têm que cavar usando as próprias mãos.
Há quase uma semana, pesados equipamentos das construtoras estão sendo usados nas buscas. São escavadeiras que retiram a terra, e máquinas que perfuram o solo e aceleram o processo de concretagem das laterais da cratera.
Mas existe uma parte do trabalho de resgate que não utiliza um equipamento tão sofisticado. É onde atuam os bombeiros, que muitas vezes, durante esses dias, cavaram o solo usando apenas as mãos.
“É tão compactado que às vezes tentamos cavar com as mãos, tirar algumas peças. Tem muita coisa lá: ferro, pedaços de madeira, o entulho da rua. Vamos tirando com as mãos mesmo. Não tem outra saída”, conta o tenente do Corpo de Bombeiros Paulo Fernando Silva.
Os bombeiros contam com um auxílio especial. O faro dos cães indica o lugar onde estão os desaparecidos. Quando não há risco de desabamento, uma pequena pá que dobra é o equipamento mais utilizado pelos bombeiros nas escavações. Como a terra está compacta, o trabalho tem de ser feito com muito cuidado. A tesoura mecânica também faz parte do kit de resgate. É usada para cortar ferragens.
“Colocamos onde será cortado. Fechamos a tesoura para dar o corte”, mostra um bombeiro.
Um caminhão, com quarto, banheiro, e equipamentos de comunicação serve de base para as equipes. Os bombeiros trabalham em turnos de 24 horas. Alguns, incansáveis, querem continuar no serviço de resgate, mesmo depois da jornada cumprida.
“O comando da operação está monitorando isso, verificando sempre o estresse do bombeiro, se há fadiga. Se há, ele é substituído. Inclusive tem gente que veio de férias prestar apoio a companheiros aqui, junto com a equipe, tentando ajudar”, afirma um tenente do Corpo de Bombeiros.
Dedicação que é reconhecida por parentes das vítimas. Wagner Mármit, ex-marido da advogada Valéria Mármit, enterrada ontem, disse que, graças ao trabalho dos bombeiros, pôde contar a verdade aos filhos.
“Por eu ter estado lá, sei como é difícil. Agora, tenho que pensar nos meus filhos e tentar seguir a vida”, diz Wagner Mármit.
Subiu para dez o número de casas no local do acidente que foram condenadas e serão demolidas.
O enterro do motorista Francisco Torres, retirado ontem da cratera, será no início da manhã em uma cidade da Grande São Paulo.
Até o momento, o consórcio Via Amarela, que constrói a Linha 4 do metrô não deu entrevista. O Ministério Público, que vai investigar o acidente, esteve na cratera e recolheu material para tentar descobrir de quem é a responsabilidade no caso.
Ontem, o governador José Serra, que esteve no enterro da advogada Valéria Mármit, anunciou que o metrô vai suspender o pagamento por este trecho da obra.

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